A MONSTRA convida… a Bélgica
O Realismo mágico da Animação Belga
A Animação Belga confunde-se, naquilo que são os seus primórdios, com o nascimento da ilusão do movimento. Foi na Bélgica que Joseph Plateau inventou no princípio do século XIX o primeiro dispositivo que iria permitir ver imagens em movimento, o Fenakistiscópio (ou Fenaquistoscópio). Com este surge também o primeiro animador, o pintor e litógrafo Jean Baptiste Madou, que cria os primeiros desenhos animados para o jogo ótico de Plateau.
Este ano a MONSTRINHA prestou homenagem a este inventor belga distribuindo pelas escolas milhares de fenaquistoscópios para serem finalizados por crianças e jovens.
A animação belga é muito baseada em trabalhos de autor, muitos deles autodidatas, oriundos essencialmente das escolas de artes plásticas, da pintura e do desenho. Por estranho (ou não) que pareça, a animação belga teve um incremento enorme durante e após a Segunda Guerra Mundial com a realização de muitas animações para os cinemas, exibidas antes das longas alemãs. Tal fez com que, e ao contrário de muitos países como Portugal, jovens desenhadores como Peyo, Morris ou Franquin tivessem realizado filmes de animação antes de criarem as suas BD, agora conhecidas mundialmente. Ainda no pós-guerra Albert Fromenteau cria uma personagem de grande sucesso, Wrill, que vai influenciar revistas, programas de tv e de rádio. Por essa altura, a animação belga dá os primeiros passos no stop motion com Claude Misonne, que cria filmes inspirados na personagem Tintin nos anos 40. A década de 60 e 70 é marcada na Bélgica pelo Estúdio Belvision onde são realizadas algumas das longas-metragens de Tintin, Asterix ou Lucky Luke. Nesta época, o realizador Picha, já homenageado na MONSTRA, vai criar obras de algum sucesso internacional como Tarzoon a Vergonha da Selva.
Mas a animação belga é marcada essencialmente pelo cinema de animação de autor, onde sobressai Raoul Servais. Este, nas palavras de Philippe Moins, fundador do festival ANIMA, “não sendo um influenciador estético ou criador de uma escola belga de animação, foi um influenciador internacional do cinema de animação belga”. Servais é sem dúvida, também, um grande mestre. Ele leva a animação e é premiado em todos os grandes festivais de animação do mundo. Mais que isso, ele é premiado em Cannes, Veneza e Berlim que, não sendo festivais de animação, se inclinam perante o realismo mágico, o fantástico dos seus filmes associados a um ritmo, a uma montagem e som muito cuidados.
As escolas têm um papel importante na animação belga e internacional. La Cambre e Ghent são dois dos melhores exemplos. A atualidade e o futuro da animação belga do lado mais “grande público” é na MONSTRA representado com uma retrospectiva do estúdio nWave de Ben Stassen e Jeremy Degruson.
Mas a Bélgica sempre foi e continua a ser o filme de autor e aí vamos dar destaque a muitos jovens autores e criadores, uns já firmados como Patar e Aubier ou Emma De Swaef e Marc Roels, ou aos mais jovens, como Florence Henrard.
Não poderiam faltar os estúdios que trabalham com crianças e jovens e proporcionam uma literacia da animação desde tenra idade, como os estúdios Graphoui, Zorobabel e Câmera ETC, que homenageamos.
Guiados pelo mestre Raoul Servais vamos então navegar na grande animação belga do fantástico, do realismo mágico, do desenho, mas também do stop motion e do 3D.
Fernando Galrito | Diretor Artístico